195 - Chega.

Me levantei atordoada e comecei a andar de um lado para o outro enquanto ele se levantou e me olhava flito, esperando alguma reação.

Bianca:_ Não, não, não. - Sussurrei.

Luan:_ Amor. - Ele me parou e segurou em meu ombro.

Bianca:_ Não. - Neguei com a cabeça.

Luan:_ Amor! - O olhei negando. 

Bianca:_ Diz, diz pra mim que é mentira. - Supliquei.

Luan:_ E..eu sinto muito. - Abaixou a cabeça, coloquei a mão na boca tentando segurar o choro preso na minha garganta mas não aguentei, desabei a chorar e ele me abraçou, de inicio recusei tamanha dor sentia no meu coração, era como se ele tivesse levado inúmeras facadas e tentasse pulsar sem forças, mas me entreguei á aquele abraço que tanto precisava segundos depois. - Shiu.. vai passar. Eu te prometo que vai passar.

Bianca:_ Ela não Luan, por favor. Ela não.. - Ele respirou fundo e me guiou até a cama, me sentou nela e se agachou frente a mim.

Luan:_ Foi a vontade de Deus e a gente não pode fazer nada, nada pra mudar isso..

Bianca:_ Mas ela.. ela não poderia. - Comecei a chorar enquanto abaixava a cabeça.

Luan:_ Não, por favor. Calma.. - Me abraçou. - Não chora por favor. - Respirou fundo acariciando minha cabeça. - Me bate, me xinga, briga comigo, mas não chora por favor.. isso eu não posso suportar.

Bianca:_ Então faz parar, faz parar de doer..

Luan:_ Vai parar, eu te prometo que isso vai parar.

Bianca:_ Então faz. - Supliquei baixinho.

Luan:_ Quem dera tomar todas as dores que você sente, amor.Mas a vida não é assim.Só de te ver nesse estado, eu me acabo por dentro, mas você continua sofrendo.. e.. é horrível não poder fazer nada pra tirar isso dai de dentro agora, agora mesmo sabe? Mas eu te prometo que eu vou te ajudar.. - O olhei e vi que ele chorava também.Senti Manu chutar com força e foi automático levar minhas duas mãos até minha barriga.

Bianca:_ Ai. - Gemi pela dor.

Luan:_ O que foi? - Ele me olhou apreensivo. - Ai Deus, vem.. deita aqui. Vou pedir pra Arlete fazer seu café e vou trazer aqui tudo bem? Você tem que descansar, ficar calma e comer direitinho.. Eu nem queria contar pra você, mas.. ia ser crueldade demais mentir pra você.

Bianca:_ Ai! - Gemi mais uma vez.

Luan:_ Tá tudo bem? Quer ir no hospital? Ah meu Deus, Arleteeee! ARLETE. 

"Vou descansar.." - Aquilo não saia da minha mente, fechava os olhos e a havia com um sorriso nos lábios sussurrando aquelas palavras.Coloquei a mão no rosto tentando conter o choro forte.

Luan:_ Tá doendo muito? Ai Senhor, socorro.

Bianca:_ Não.. - Neguei. - Não é a Manu, é aqui. - Apontei pro coração, ele respirou fundo e me puxou com cuidado fazendo com que eu deitasse me escorando na cabeceira da cama.

Fátima:_ FILHA? CADÊ MINHA FILHA? - Ela entrou no quarto chorando desesperada, assim que me viu nos braços do Luan correu até mim, me sentei e ela me abraçou forte. - Como você tá meu amor? 

Bianca:_ Mal mãe, muito mal. - Confessei.

Fátima:_ Tava tão preocupada com você. Eu sei que ela sempre foi como uma mãe pra você.. - E as lágrimas já me consumiam novamente. Vi Luan fazer gestos para ela parar de falar sobre tal assunto. A abracei forte e ela me aconchegou em seus braços. - Sempre funcionou quando você era criança, lembra? Por que não agora. - Alisou meu rosto por alguns segundos. - Brilha linda flor, teu poder venceu. Trás de volta já o que uma vez foi meu.Cura o que se feriu, salva o que se perdeu, trás de volta já.. o que uma vez foi meu. - E foi ouvindo a minha canção de ninar que ouvia todas noites antes de dormir quando criança que dormi.E o que eu realmente queria era aquilo.. que curasse oque estava ferido e salva-se o que havia perdido..

*

Fátima:_ Ela dormiu..

Luan:_ Ela nem comeu. - Falei completamente derrotado a olhando com o rosto ainda molhado pelas lágrimas. 

Fátima:_ Luan.. você sabe o quanto a Bianca considerava a dona Beatriz não sabe? - Concordei com a cabeça. - E sabe o quanto vai ser difícil pra ela superar isso não sabe? 

Luan:_ Sei..

Fátima:_ Ela precisa de você, ela precisa de mim, de todos nós, mas especialmente de você.

Luan:_ Eu sei.. e vou dar o melhor de mim pra isso.

Fátima:_ Sei que sim.. - Ela sorriu de leve e observou Bianca. - Ela é forte, é guerreira, luta sem medidas, mas ela também sofre, ela também cai, ela também sofre.. - Limpou as lágrimas do rosto. - E.. uma mãe ver um filho desamparado e não poder fazer nada é a pior coisa do mundo. - Me olhou pensativa. - Hoje você não entende ainda, mas quando a Manu nascer.. você vai saber disso..

Luan:_ Eu sei.. eu já sinto isso. - Confessei. - Fiquei com medo de contar pra ela sobre a dona Beatriz, tanto por ela, como pela Manu por que sei que afetaria as duas.. eu tenho a necessidade de proteger as duas sabe? E quando eu não consigo.. eu me sinto a pior pessoa do mundo. - Respirei fundo.

Fátima:_ Não fale assim.. você fez o que tinha que ser feito.

Luan:_ Odeio ver ela assim, tão frágil, chorando, triste.

Fátima:_ Eu também, eu também.. - Se levantou com cuidado para não acorda-la mas foi tentativa frustada, ela se sentou assustada e segurou a mão dela firme enquanto tinha a respiração acelerada. - Tá tudo bem filha, mamãe tá aqui com você..

Luan:_ Vou pegar seu café amor, não demoro. - Ela me olhava de uma maneira tão frágil, era como se pedisse colo e ai meu Deus que dor ver ela assim. - Arlete prepara o café da Bianca em uma bandeja? Vou levar pra ela na cama. - Me sentei no balcão da cozinha.

Arlete:_ E..

Luan:_ Não, eu não quero comer, valeu. - Ela concordou com a cabeça e começou a arrumar a bandeja já que o café já tava pronto.

Arlete:_ Desculpa perguntar mas.. como ela está?

Luan:_ Ah Arlete, tá mal cara.. tá nevosa, apreensiva, ansiosa, é tanta coisa. - Passei a mão no rosto.

Arlete:_  Ela vai ficar bem..

Luan:_ Assim espero. - Peguei uma rosa do vazo de vidro de cima do balcão e coloquei do lado na bandeja. - Valeu Arlete..

Arlete:_ Luan.. você não tá bem não é? Você também gostava dela e..

Luan:_ Guardei minha dor pra poder curar a dela.. 

Arlete:_ Força menino, você já superou tanto.

Luan:_ Valeu, de verdade cara. - Sorri pequeno e segui para o quarto.Do corredor já ouvi a voz dela.

Bianca:_ Mas ela não sofreu então? 

Fátima:_ Não meu amor, não.. ela partiu dormindo.

Bianca:_ Ela não sofreu.. 

Fátima:_ Não filha.. foi ataque fulminante, foi rápido, ela não teve nem tempo de acordar.

Luan:_ Tô entrando.. - Abri a porta com os pés por tá com as mãos ocupadas. - Olha o que trouxe pra você.. - Ergui a bandeja.

Fátima:_ Olha só, que delicia filha.

Bianca:_ Eu não quero.. - Negou.

Luan:_ Amor..

Bianca:_ Eu não quero, eu não consigo, não vai descer. 

Fátima:_ Mas filha olha.. - Ela apontou.

Bianca:_ Mãe não.Por favor.. - Começou a chorar.Ela tava nevosa demais cara, com tudo. - Por favor..

Luan:_ Não, não chora.. 

Fátima:_ Ninguém vai te obrigar a comer filha, calma. - Ela se levantou meio sem rumo e entrou no banheiro. 

Luan:_ Cara, ela não tá bem..

Fátima:_ Não mesmo.. - Ouvi o barulho da água caindo e respirei aliviado. - Eu organizei tudo do velório e do enterro então tenho que tá presente..mas não sei Luan, não acho que ela tem que ir, vai ser forte demais pra ela e ela não pode passar por emoções tão fortes assim.

Luan:_ Não, claro, claro.. eu também acho. Vai tranquila, vou ficar com ela.

Fátima:_ Promete que qualquer coisa você me liga?

Luan:_ Prometo. - Assim que falei Bianca abriu a porta vestindo um roupão.

Bianca:_ Fui só esfriar a cabeça mesmo..

Fátima:_ Filha, a mamãe tem que ir, mas o Luan vai ficar com você tudo bem?

Bianca:_ Você vai pro enterro né? Mãe, eu não quero ir, eu não quero ver ela assim, mãe por favor..

Fátima:_ Meu Deus filha, calma, você tá tremendo, tá nevosa demais, não pode ficar assim. Pensa na sua filha.

Bianca:_ Minha cabeça vai explodir, vai explodir. - Colocou a mão na cabeça e depois me olhou. - Tudo bem mãe, vai.. - Elas se abraçaram forte, levei a sogra até a porta e depois de ouvir algumas recomendações ela foi.

Luan:_ Vamos comer? - Ela negou. - Mas amor.. hoje é dia de caminhada e precisa tá forte. 

Bianca:_ Eu não quero comer, não quero caminhar, não quero nada.. - Falou baixinho se sentando na cama. E nesses três dias que passaram ela realmente não comeu muito e o pouco que comeu foi pela minha insistência, não caminhou, não dormiu bem anoite, acordava assustada, tremendo, andava frágil, tudo era motivo de choro, ansiedade, só se acalmava nos meus braços e isso é quando se acalmava. E sinceramente.. ver ela assim tava acabando comigo.

Luan:_ Amor o sol tá lindo, bora tomar café lá fora?

Bianca:_ Não sei amor.. 

Luan:_ Ah por favor, faz três dias que você não sai desse quarto.

Bianca:_ Exagerado.. - Forçou um pequeno sorriso.

Luan:_ Não tô exagerando, tô? 

Bianca:_ Está..

Luan:_ Bora vai.. a Arlete fez um bolo de chocolate tão bom..

Bianca:_ Não estou afim amor.

Luan:_ Mas é seu preferido.

Bianca:_ Só não estou afim.

Luan:_ Tá, mas vai ficar afim quando souber disso. Ela colocou morango em cima amor, morango, você ama morango.

Bianca:_ Ah..

Luan:_ Que carinha é essa ein? Ai amor.

Bianca:_ É só que não estou afim mesmo. - Respirei fundo.

Luan:_ Bora tomar café lá embaixo então, pelo menos?

Bianca:_ Acho que quero na cama mesmo.. e bem pouco por favor.

Luan:_ Amor chega. - Me sentei ao seu lado. - Chega disso cara.. eu sei que você tá sofrendo, eu também tô e tô em dobro, mas olha como você tá, olha como eu tô, olha como tudo tá.. a dias você não come direito, não dorme bem, não conversa muito, anda nevosa, tudo é motivo pra chorar, eu sei que não é fácil, eu sei, eu já passei por isso. Mas amor.. - Coloquei minha mão sobre sua barriga. - Olha pra nossa filha. A gente.. - Engoli em seco. - A gente.. lutou tanto, tanto pra conseguir que ela existisse e agora.. agora que ela existe, você vai deixar tudo ir pro ar? - Enxuguei as lágrimas que existiam em cair. - Não faz isso com ela, não faz isso comigo, não faz isso com você.